Nos dias de hoje os solteiros se são feios é porque são os
coitadinhos que ninguém quer, ou então, os “mais ou menos bem-parecidos” são os
intitulados homossexuais não assumidos, ou os esquisitos que procuram um top
model. Porque ninguém percebe como alguém que até é “mais ou menos
bem-parecido” está sozinho, só pode ter algo de errado, por isso só pode ser
gay e tem vergonha, ou é demasiado exigente.
Hoje em dia é preciso ter alguém para ser reconhecido socialmente.
Caso contrário seremos sempre os excluídos do mundo da felicidade. Na verdade
andamos todos a chorar pelos cantos e a cortar os pulsos aos bocadinhos com a
lâmina do corta-unhas. É este o nosso mundo. Chegamos a casa
lambuzamo-nos com um bolo de chocolate, vemos o diário de Bridget Jones vezes
sem contas e não pensamos noutra coisa se não em ter alguém. De vez em quando
lá vamos a um evento ou outro só para ver se arranjamos alguém, e lá tiramos
uma foto para parecer que temos vida social e até temos amigos. Todas as noites
choramos baba e ranho, e chicoteamo-nos severamente nas costas por valermos
zero porque não temos ninguém.
Somos os snobs, que ocupam os tempos livres, a ler, a ver séries,
a escrever um blog, a ir ao ginásio e etc. Vamos às compras sozinhos, não
porque é divertido mas porque não temos ninguém. Temos a todo o custo de ser
autossuficientes e até as coisas mais básicas como ir à mercearia fazemos sozinhos.
Somos no fundo até invejados por termos tanto tempo livre e há quem fique
indignado por quereremos férias em épocas altas e folgas ao fim-de-semana. Já não
nos basta todo o tempo livre que temos antes e depois do trabalho, que ainda
queremos ter direitos como os outros? Eu compreendo porque a realidade é que não
temos uma casa inteira para arrumar, porque somos solteiros logo não sujamos a
casa e o pó não quer nada connosco. Os pratos não acumulam no lava louças,
porque somos um só e podemos nos dar ao luxo de empilhar uma semana de louça
porque a comida agarrada aos pratos não resseca miraculosamente, porque
obviamente que a química sabe que estamos sozinhos. A roupa pode ficar na cesta
durante quase duas semanas, porque como somos sozinhos não vale a pena estar a
gastar agua e eletricidade a lavar a roupa. E o cheiro da roupa suja também não
incomoda, não temos que agradar a ninguém. Mundo árduo e triste este, que temos
de ir sozinhos para todo o lado e temos tanto tempo que não sabemos o que fazer
com ele.
Eu acho que deveria existir uma onda de solidariedade para com os
solteiros. Algo como “adote um solteiro e levo-o de férias consigo”. Sempre podíamos ocupar o tempo interminável
que temos a fazer algo de útil como carregar os vossos sacos da praia, por
creme solar nas vossas costas e até ler um livro em voz alta porque o tempo é
precioso para gasta-lo a ler. Até nas férias de Natal, que obviamente passamos
sozinhos porque somos todos órfãos, podemos servir para empurrar os vossos
trenós na neve ou levantar a mesa na
ceia de Natal. Assim como assim não precisamos de férias no Natal porque
obviamente passamos a consoada agarrados a uma garrafa de whisky e a ver o
Grinch na Tv ou esperem, esta é muito boa: a ver o “Sozinho em casa”.
Ironia à parte, por de trás de cada solteiro há uma história de
vida. Uns são solteiros por opção, outros porque não encontraram a cara-metade
e depois existem os traumatizados que nunca acertam na pessoa certa.
No meu caso sou uma traumatizada que não voltou a encontrar a
pessoa certa, mas esta vida de solteira ensinou-me muito mais do que muitos
anos de uma relação. Amo a liberdade de poder escolher sozinha. Ter espaço para
mim e para as minhas outras pessoas. Acho que era incapaz de perder de certa
forma a minha entidade individual, para passar a ser um plural constante de 24
horas, de ir para todo o lado com a mesma pessoa. Compreendo e acredito que
muitos casais sejam felizes assim, mas eu sou diferente. Sempre valorizei a
amizade, e que ninguém me tire o espaço com os meus amigos, ou pior ainda, o
espaço comigo mesma.
Não critico quem seja assim, são maneiras de ver o mundo
diferentes. Eu vejo-o assim. Mas sim, gostava de ter um companheiro. Não vou
ser hipócrita, sou humana e tenho necessidade de amar e ser amada. Tenho
medo, mas não quero deixar de tentar ser feliz a dois. De ter um companheiro de
vida, que não me prometa o mundo, mas que me leve a conhecer o mundo com ele.
A minha história é simples, e como tantas outras histórias começa
e tem um fim. Um grande amor que acabou, porque uma das partes teve a coragem
de desistir. E foram precisos alguns anos para entender que quando um não quer
dois não dançam. Fui muito feliz durante muitos anos, fui amada e disso não
tenho dúvidas. E esta hein? Já fui feliz a dois. Um like para mim que eu
mereço. Sim eu acreditei no Amor. Pior
do que acreditar eu amei alguém. Aquele sentimento que vos enche a alma e chega
a doer o peito porque estão tão felizes que não cabem em vós mesmos. Quase que
por momentos questionam se merecem tanto.
De repente as coisas começam a mudar, não és tu que mudas
porque amas da mesma forma, mas sentes que algo à tua volta está a mudar, mas
não sabes bem ainda o que é. Aquele instinto que te preocupa, aquela desconfiança
que no início é tola e até coras de vergonha por duvidares do teu companheiro.
Começas a sentir que a outra pessoa já não te dá tanta atenção como de antes,
que se irrita facilmente, que as mensagens e telefonemas são cada vez menos e
mais curtos. Começas então a tua carreira de investigadora criminal, de fazer
inveja ao FBI. Cada palavra numa SMS é uma pista que te leva a pôr em causa o
que ele sente. O mundo desaba e o inevitável acontece: ele parte e deixa-te,
mesmo depois de ter prometido o mundo Conheço a doçura do Amor mas também
o devastador sentimento de Amar sozinha.
Prefiro estar solteira, do que amar com medo. Ainda não apareceu a
pessoa certa e talvez nunca apareça, mas não sou nenhuma coitadinha. Não vou
cortar os pulsos só porque a sociedade define que tenho de ter alguém e que
ficar solteira para sempre seria o pior que me podia acontecer. Na
verdade nunca estarei sozinha todos nós sabemos que a vida de uma solteirona
acaba com 75 gatos em casa, a fazer mantinhas de lã para todos eles enquanto vê
as novelas da TVI.
Sou independente, e apaixono-me todos os dias, por um vestido, por
um lugar onde gostava de ir um dia, por um personagem de um livro, ou até mesmo
pelos momentos que tenho com os meus amigos. Tenho sonhos e ambições.
Em suma, estar solteira não é sinonimo de estar sozinha…