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segunda-feira, 31 de maio de 2010

Passado...



Passeava pela praia, descalça de dúvidas, no entanto, caminhava à deriva sem nenhuma certeza. O vento soprava frágil e um leve sabor a maresia indagava memórias já esquecidas naquela praia.

A humidade do ar fez-me lembrar as tuas lágrimas que caiavam a areia enquanto me confessavas que amavas outra. Puro. Foste puro, choraste porque sabias que me laceravas… é estranho o que simples palavras podem provocar… um turbilhão de emoções que nos destroem em segundos… senti-me um grão de areia, sozinho na imensidão da tua mão a escapar-te por entres os dedos, a juntar-me à multidão tão indiferente para ti…

Sentei-me fitando o infinito… as tuas palavras atrás de mim ecoavam com a brisa… “Desculpa..” Dizias compulsivamente… sabia que não te poderia culpar por isso... culpar-te por amares? não… um sentimento tão nobre deve ser perdoado… tornei-me altruísta ali… percebi que te amava ali…

Naquele momento desejei ser tão ténue e subtil como uma pena… pairar na imensidão do oceano… deixar de te ouvir… deixei por momentos… a minha mente ocupou-se em recordar-te… aquele dia em que me disseste pela primeira vez: adoro-te… mas, nunca, nunca me disseste amo-te… e ali proferias um “amo-a” tão certo como o céu se desenhar aos poucos carmesim naquele entardecer…

O que teria ela de tão especial? Perguntava-me… vim mais tarde a saber o porquê… ela não te amava… era uma conquista lancinante para ti... era o fruto apetecivelmente proibido… como a onda mais fidalga é para um surfista: mortalmente apetecível…
Tenho pena que a última memória tua seja uma lágrima… e o teu sorriso… que me convidava indubitavelmente para ti?… senti o amor uma ultima vez ao luar… entregue ao teu corpo… o carmesim deu lugar a uma lua desenhada no céu majestosamente que imperava no universo testemunhando a rendição de uma alma… de uma alma… a minha…a tua nunca a rendeste … rendeste o corpo por uma ultima vez ao prazer, como uma despedida atroz… não falei.. Deixei me ali entregue àquele epilogo ímpio. Pensei se todos os namoros acabariam assim… terei feito amor com a Lua? Partiste com uma lágrima a iludir a certeza de que não nos voltaríamos a ver…

Acordo daquela recordação.. uma lágrima cai-me pela primeira vez desde que foste embora… saudade? Não… saudade senti este tempo todo… rendição.. rendi-me à verdade de que deixámos de existir…

2 comentários:

Neithan disse...

A desistência é o néctar do falhanço, o apogeu da derrota.
Beber tal fel é perder a qualidade humana que nos define e como tal nos obriga sempre a lutar e desejar sempre mais.

Estando conformada ao que o destino nos traz, ou ao que se pensa que nos está destinado é a qualidade que define quem desistiu de tudo, para sentir o minimo possivel, escudando-se não só dos maus aspectos da vida, como dos bons.

....

Boa escrita, continua a inspirar mais.

Tytta disse...

Desistência, não! Acto de coragem, de não querer viver presa a incertezas! Desististe de ti, quando, em vez de construirem algum em comum, viviam só em função de um. Reencontraste-te quando soubeste dizer adeus.