Pages

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Já nada sei



Já nada sei, já nada faz sentido
O sol já não ilumina da mesma forma
Os nossos rostos tristes
A lua já não reflecte o que fomos
Num passado estranhamente feliz
O espelho mostra-se opaco
Num olhar indelicadamente ferido
As nossas mãos já não se tocam
Num entendimento intemporal
Rasgas o que sou em prantos
Numa voz gélida e bárbara
Destróis o sorriso que me cobre
Em lágrimas de desesperança
Que esperar de uma morte certa
que o amor se tornou?
Que queres de mim Anjo Negro
Se o destino que nos une é incerto?

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Tempestade



Quando a neblina cai sobre a noite fria
Os modilhões ávidos cantam em uníssono
O hino de um destino disfarçado
Caiados os anjos despem as asas
Cobrindo de lágrimas os céus
Num cinza lúgubre carregado
Os deuses irados praguejam
Palavras que o vento desconhece
Os homens indiferentes ignoram os sinais
O mundo dorme num sono inquieto
A alma do mundo suspira de dor
A mensagem que acaba de receber
do fado que terá de transportar…

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Tudo morre mas nem sempre tudo renasce...



Tudo deixa de ser num momento
As palavras deixam de fazer sentido
O olhar torna-se frio e indiferente
O futuro consome-se numa névoa
O presente deixa de ser
Tudo morre porque deixaste de me amar
O nada abraça-me num beijo forçado
Já nada sinto porque morro por dentro
Palavras que me destinas não as ouço
Traiste-me num ápice com palavras doces
para outro olhar que não o meu…
Preferes magoar-me do que afastar
esse sorriso que te conquistou…
Resigno-me à minha ignorância
num vazio enternucedor …
E tu, cavaleiro que me mataste,
contemplas um novo futuro
com um ser diferente…

Ana Diogo

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Mabon



Recordo quando caiam as folhas de Outono. Quando o perfume que pairava nas ruas era peculiar, um misto de bafio com terra molhada.

Recordo-me de caminhar por entre as folhas que vestiam as pedras da calçada, e de num gesto infantil saltar de folha em folha para as ouvir estalar.

Recordo-me dos vendedores de castanhas a apregoarem o Outono, e o cheiro delicioso a brasas que percorria as ruas.

Recordo – me de andar de eléctrico, de apreciar a cidade desde o Martim Moniz à Estrela, de cheirar a magia que a cidade transparecia e a felicidade nos rostos que surgiam na paisagem.

Recordo-me de percorrer o jardim da Estrela de mãos dadas com a minha avó, de ser inundada pelo encantamento da nova estação.

Recordo-me das cartolinas enfeitadas com folhas das árvores que perdurávamos nas paredes da Escola para dar as boas-vindas ao Outono.

A saudade faz-me recordar o velho Outono que nunca mais regressou...

Recordo-me!

Ana Diogo

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Tempo



Tempo que nos envelhece com mágoas e vitórias num silêncio enternecedor. As cicatrizes que deixam visível a nossa história, faz-nos temer o futuro sem rosto que há-de surgir.

A incerteza das horas que se seguem nesta corrida, rouba-nos a beleza.

O retrato de uma vida carcomido pelo passado, espelha a glória de um momento já defunto.

Resta-nos respirar fundo e acreditar que depois do último passo, existe uma nova existência.

Ana Diogo

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Imaginando uma noite de chuva...



Imaginando uma noite de chuva...

Tempo depois de me teres deixado, começaram os primeiros pingos da primeira chuva de verão.. Indubitavelmente e sem pensar fui até às traseiras e recebi a chuva… os pingos caíam sobre a minha pele como um néctar divino… senti em mim uma força enorme, uma vontade enorme de gritar, de querer abraçar o universo… senti o coração tão grande que seria capaz de possuir o universo dentro de mim…. Sozinha no prédio cantei para aquele festival de chuva mansa que caia sobre o meu rosto, cantei inventando uma letra, talvez ditada pelos deuses… os galhos das arvores caiam sobre o muro do meu quintal dançando com o vento e parecendo embalados ao som da minha canção… não tive vergonha, afinal estava sozinha apenas com os deuses… com a deidade humana, a alma do mundo… senti-me mulher, senti-me deusa, senti-me parte da natureza de toda a sua beleza e imperfeição… dancei ao som da minha musica com o ritmo da alma do mundo… um ritmo inseguro, por vezes forte e irado acabando num suave acorde… lembrou-me a paz e a guerra como se ambas pelejassem por um lugar a solo… lembrei-me do que sinto por ti: esse sentimento de perda e conquista, cada um lutando pela edificação. De um lado a perda por palavras pesarosas de ouvir… palavras que por vezes me deixam numa introspecção avassaladora… de outro lado a conquista, o reconhecimento, a exaltação do meu ser… Um sentimento que me faz acreditar na minha condição divina, como a de todos os humanos, embora eles não saibam que a possuem…
Ouvi, então, de súbito, um vizinho do prédio ao lado, a tocar piano, uma melodia que desconhecia… deixei-me ficar ali a ouvir, deixei de cantar e doei o ouvido ao piano. Pergunto-me se ele terá começado a toca-lo porque me ouviu e quis interromper, ou quis acompanhar o meu cântico aos deuses. Se calhar, também ele festejava a chuva à sua maneira. Os rituais são sempre diferentes… cada um sente-o à sua maneira.
Quis te abraçar, quis que recebesses o mesmo que estava a sentir, pedi então ao vento que recebesses uma leve brisa que te lembrasse de mim… pedi aos deuses, minto, pedi à deusa que guardo dentro de mim para que a minha outra parte, o deus, recebesse o mesmo sentimento… se o sentis-te então é porque me pertences…
Deixo um beijo num dossel carmesim, como espero que o céu acorde amanhã depois desta chuva de verão….

segunda-feira, 1 de junho de 2009

tempo


O sonho faz nos voar sem asas. Perfeito como um quadro onde moram as cores mais inimagináveis e uma história que nos prende à tela, que de tão misteriosa e inquietante nos faz desejar pertencer a ela para assistir ao final... Sonho em conhecer o mundo, outras terras, outros perfumes, outras gentes. Sonho porque viajo e conheço lugares nunca dantes percorridos, porque esses caminhos são meus e só eu os conheço e posso visitar. Mas tu estas sempre comigo mesmo não sabendo, o teu perfume acompanha o silêncio dos meu passos quando caminho neste quadro perfeito... O sonho que nos domina a mente quando a noite cai surdina nos nossos leitos e abre a porta que nos separa do que somos e do que desejamos. No sonho podemos ser mil pessoas em mil lugares diferentes...

domingo, 10 de maio de 2009

Retrato



Amanhã seremos o que somos hoje…
Memórias esquecidas
Aprisionadas num retrato
Ruído pela idade…

Temerosos que o fim nos leve
E nos beije para sempre…

Impõe-te agora ó Deus esquecido
Antes do cansaço nos tomar…

Pudéssemos nós um dia
Amarrar o que sentimos
Roubar ao tempo
A eternidade,,,

Sermos a perfeição
Eternos reis do templo
Majestosos e serenos
Pedras sólidas de um reino
Ruínas de um passado
Efémero que reinou…

Amar-te-ia para sempre, se fossemos eternos
Pois teria a eternidade para te conhecer…

Ana Diogo

quarta-feira, 6 de maio de 2009

chuva...


Chove dentro mim, uma chuva miúda que mal se vê, no horizonte desenha se um por do sol sobre uma montanha cheia de novas oportunidades. A chuva impede me de lá chegar, embora sumida e leve prende me aqui neste passeio solitário... No céu levemente nublado, espreita a lua que tímida receia visitar me. E num lugar que achava impossível encontrar, vejo surgir o que procurava. Lá estavas tu, também molhado da chuva, escondido do sol, com os braços estendidos, tu a quem chamam de amor disfarçado de saudade...

domingo, 3 de maio de 2009

recordar é amar



Foi numa noite pálida, que desconhecia a lua, que visitei o teu ser... Uma leve brisa que arrepiava as folhas das árvores, o silêncio que fez invejar a eternidade, o teu olhar que se perdia em nos, a perfeição com que as nossas mãos se encaixavam... Tudo o que podia desejar estava ali, e o mais belo de tudo é que basta recordar para sentir, ... Se um dia partires terei este momento para recordar, porque serás sempre parte de mim, porque vives dentro desta memória.. É atroz pensar que um dia deixaremos de existir, mas mesmo que não haja nada para além do fim, tive um momento perfeito... E se houver outras vidas, sei que se o nosso olhar se voltar a tocar vai se recordar daquele momento, em que em silêncio, numa noite pálida sem lua, criamos o momento perfeito que se chama amor...

domingo, 19 de abril de 2009

Vencer dói...



Magoaste-me talvez…
Como quem salga a ferida
Tornaste-me forte
Como quem sente tristeza sorrindo
Fui mágoa na tua ausência
Como quem grita sem voz
Fui luz na escuridão
Como quem morre e renasce
Sou asa ferida
Como quem aprende de novo a voar
Sou águia debatida
Como quem vence a lutar....

Ana Diogo

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Perdidos



Por entre linhas vagas de pensamentos que divagam
Perco-me nas dúvidas da nossa existência
Que teimam em nos atromentar

Porque te perdes de mim pescador,
Se a rede que me prende a ti é eterna?

Já nada é o é sem o ser..
Já não há sonho que resista
A este medo de sermos um só

Porque já não sei quem somos
Nem para onde navegamos
Nem conheço a rota
Que iremos percorrer
porque me cegaste...

Ana Diogo

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Naufragio

Querer amar-te numa noite de loucura
Sobre uma intensa e cheia lua
Numa penumbra de areal salgado
Sobre um intenso perfume a mar
Sentir as trevas que te movem
Na luz intensa que me habita
Sentir o teu perfume no areal
Confundir-se com a aragem salgada
Ser a sereia que te enfeitiça
Com sussurros de palavras nuas
Seres o pescador que me toma
Na sua rede corrompida de sedução
Me tomarás só para ti
Ó naufrago que me salvou?
Deixarás que eu seja as únicas ondas
Que te velejam no amor?


Ana Diogo

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Nada dura para sempre...

Hoje assisti ao filme “O estranho caso de Benjamim Button”, um filme que mexe connosco, que nos leva a reflectir o sentido da vida e o quão curta ela se torna.
Por vezes damos valor a coisas tão insignificantes, discutimos por coisas tão menores e os dias, meses, anos, décadas vão passando por nós sem darmos conta. Questionamo-nos sempre num determinado momento da vida: para que nascemos? O que andamos cá a fazer? Como será aquele dia em que respirarei pela ultima vez? Será que acaba tudo ali? Respiramos fundo e pensamos como injusta a vida parece e muitas vezes desejamos com toda a nossa força viver muito mais do que a natureza permite, que descubram uma poção milagrosa que nos faça durar mais um tempo. Mas a natureza em toda a sua plenitude é perfeita, e tudo o que nasce morre para dar lugar a outro.
Benjamim nasce com uma figura pouco humana com um rosto enrugado, lembrando uma cabeça de um velho num corpo minúsculo. Ele ao em vez de envelhecer, rejuvenesce a cada dia, enquanto todos a sua volta caminham para a velhice a largos passos. Apaixona-se por uma jovem rapariga cujo coração reconhece que por detrás daquele corpo velho se esconde um olhar inocente… Não vou contar mais a historia, pois merece que seja vista por cada um como um puxar de consciência para a nossa pequenice humana e para que um dia, quando já velhos e cansados olhemos para trás e sorriamos para todos os feitos que conseguimos alcançar por vencer o tempo.
“Nothing lasts forever”, mas enquanto durar façamos de nós próprios os heróis que sempre sonhámos ser…. Não deixemos de acreditar na magia das coisas, pois não é a toa que as crianças não têm noção da morte, e não é só porque a morte lhes parece francamente distante, mas sim porque a vida lhes parece mais fiável, mais bela e tão mais magica do que essa paragem desconhecida.

Sejamos aquilo para o qual fomos desenhados, nada acontece por acaso… Encontremos o amor em cada coisa, pois as nossas obras primas são a prova de sermos eternos e não a vida…

domingo, 18 de janeiro de 2009

sábado, 17 de janeiro de 2009

A outra parte de mim....

Por vezes a força que nos faz manter de pé sorrindo falha e deixa-nos a sós com o mundo num momento só nosso onde descobrimos quem somos e até onde podemos ir....
É hora de mudança, o tempo urge, é hora de viver, de deixar os fantasmas do passado, de seguir em frente sem medo, com confiança em mim… O maior fantasma que me assombra é o medo de amar… È preciso ter coragem para amar, porque o amor não é somente um mar de rosas, mas um dilúvio de emoções, e há que saber gerir essas emoções…








Aprendi que o amor é dividir o universo com outra pessoa, mesmo que o vejamos de forma diferente. Talvez já tivesse aprendido se não hoje, mas pelo menos hoje percebi. O amor é diferente da paixão, no amor é preciso conhecer o lado bom e o lado mau, na paixão construímos uma imagem num cenário idealizado sem conhecermos a outra pessoa. Estas palavras soaram estranhamente em mim quando as lia n’ “As Valquírias” de Paulo Coelho. Como se um rasgo de uma ideia perfeita se encaixasse no que sentia. Por vezes, chorei porque a paixão parecia acabar, que aquele brilho dos primeiros meses perdera a força, o entusiasmo, a inocência. E perdeu… Mas a troca foi justa e recompensada, trocamo-la pelo Amor.
Nada é perfeito mas aprendemos a amar os defeitos e as fraquezas do outro, acabamos por amar um todo. Esse amor nasce da paixão, tudo é maravilhoso na outra pessoa quando a conhecemos, e aqueles defeitos tornam-na especial, única e vamos caminhando lado a lado partilhando o mundo, experiências. Essas experiências nascem das visitas que fazemos um ao outro, partilhando a visão que cada um tem do universo, e a isso chama-se cumplicidade.
No entanto, como em tudo colocamos barreiras ao amor, criamos medos parvos e inconscientes, começamos a ter medo de perder esse mundo perfeito. Pomo-nos em alerta sempre que alguém novo quer entrar, ficamos de pé atrás pensando que alguém quer destruir o que temos. E caminhamos para a destruição do que mais amamos. Isto ainda estou a aprender a controlar, o ciúme é um bicho ruim, difícil de controlar. É tão duro lutar com o nosso interior, com a segunda mente, quando ela nos diz que “ele não telefona, está com outra”, “Ele vai fazer contigo aquilo que fez com a outra, acabar contigo e começar com outra (que na altura eu era a outra)”, e depois existe uma voz que me diz “que parvoíce, ele nunca te deu provas de ser infiel, acorda ele é o teu melhor amigo, sempre o foi, jamais em tempo algum ele te faria isso, te magoaria…”. A isto chama-se confiança, e quando a ouço essa voz acalmo, porque confio nele, não confio é nos meus medos.
Não quero destruir o que tenho com a outra pessoa, quero conhecer e partilhar o universo com ela. Há tanto ainda para vivermos em comum, sei-o, sinto-o. Em tanto me vejo nele, que quando me identifico calo-me, guardo para mim e sorrio. Não sei explicar por palavras o que sinto, não possuo factos que garantam a certeza que tenho de que ele é a minha outra parte. Sei-o e basta.

Quero amar o universo que construimos, e não este fantasma que me assombra...