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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Vergonha


A vergonha esconde-me o rosto
Com estas lágrimas que deito
Esmagando-me os sonhos que alcancei
A dor da perda estrangula-me
Como uma corda velha de sisal
O vazio do que sou instala-se
Como o pó de uma guerra perdida
Já nada sou se não a sombra
De um passado que carreguei
Como eu queria apagar o que fui
Com uma borracha intemporal
Como eu desejo ser tudo aquilo
Que sonhaste que eu fosse…

(...)


A vida é como este poço, ou sobes as escadas ou bates bem no fundo e sofres com a queda...

domingo, 22 de maio de 2011

Mudança...


Mudei de endereço de blog, por uma simples razão: existem apenas 3 pessoas que têm conhecimento que em Agosto vou rumar até à Holanda. Por enquanto, vou manter tudo no anonimato. Como ainda não tenho nada palpável para contar irei guardar a notícia por mais algum tempo.

Estão todos habituados ao facto de eu viajar com regularidade, mas ninguém estará a espera que me mude de vez, de malas e bagagens.

A realidade é que a vontade de aqui ficar é nula. Já não suporto o trabalho que tenho, sinto aquela vontade da mudança, de crescer e de arriscar. Não foi uma coisa pensada de ânimo leve. A ideia nasceu quando numa das viagens a minha mana perguntou-me o que eu achava da ideia de irmos viver para outro país, arriscar e fazer-nos à vida. Durante muitos meses recusei a ideia, pensei muito sobre o assunto. A altura em que a ideia chegou não foi a melhor. Estava a sair de uma relação e com um nível de baixa auto estima do pior. Não estava centrada em mim, não sabia o que queria. Primeiro tive de estabelecer pequenas metas, aceitar a realidade que tinha, de perceber que não precisava de um homem para ser feliz. Hoje sinto-me bem solteira e adoro o silêncio que partilho comigo mesma. Agora consigo abraçar a ideia da mudança.

A minha mana que é a investigadora de serviço deu me a conhecer um blog de uma rapariga que foi para Amsterdão em 2008, devorei os meses de 2008 quando se mudou para lá. Ainda fez crescer mais este bichinho que temos cá dentro.
O que mais me vai custar serão as saudades dos meus pais e amigos. Será algo devastador, pois sou bastante apegada a eles. Devo confessar que fiquei muito surpreendida com o apoio que o meu pai me deu para ir em frente com a ideia. Espero voltar muitas vezes a Portugal e proporcionar a ida de quem amo onde eu estiver.

Neste momento estou de férias e quando regressar vou pedir a carta de rescisão com saída marcada para final de Julho. E em Agosto lá vamos nós rumo ao desconhecido.

Tenho perfeita noção que não será fácil de início. Todas as mudanças trazem obstáculos e o medo de que as coisas poderão não correr pelo melhor está latente. Poderá ou não ser provisório. O tempo que lá ficarei será uma incógnita mas “quem não arrisca, não petisca”.

A nossa última viagem foi a Amsterdão. Adorei a cidade, as pessoas, o cheiro. Um mundo tão diferente mas tão acolhedor. O frio será de facto um obstáculo, ainda para mais duas pessoas que só estão bem ao sol. E um obstáculo pessoal será também: andar de bicicleta, tendo em conta que nunca aprendi.

As nossas próximas viagens antes da derradeira serão Roma e Madeira. Roma é de facto a minha cidade de eleição, se tivesse melhores condições financeiras seria a minha primeira escolha. Simplesmente amei a primeira vez que lá estive. Aliás adorei as poucas cidades que conheci em Itália, mas em Roma senti-me em casa, lá bebe-se a história, a magia e o clima tão semelhante ao lusitano.

Enfim, a mudança espera-me e esta mistura de sentimentos consome-me. Um misto de ansiedade com saudades antecipadas. Até tenho saído mais com os meus pais numa tentativa de recuperar o tempo perdido. Parece que quando tomamos consciência da mudança as saudades nascem e tentamos aproveitar o tempo que nos resta com quem é importante para nós.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

...


O tempo compra-nos as rugas
Que nos chegam sorrateiras
Como o silêncio nos ensurdece
Quando a solidão nos recolhe

Partimos de um porto sem rumo
Num barco sem marinheiro
Enfrentamos ondas e tempestades
Num destino sem mapa ou norte

Fugimos da verdade que nos espera
Esperançosos pela imortalidade
Contamos a nossa história
Sem espelhos, feridas ou idade

No final quando lançamos a âncora
Abraçamos a verdade absoluta
De que o fim chega sem disfarce
Chama-se Morte, chama-se culpa…

Ana Diogo

terça-feira, 17 de maio de 2011

"O relógio não pára..."



A vida surpreende-nos a cada passo e quando não o faz é porque algo está errado. Portanto, embora o que está para acontecer seja atrozmente avassalador, estou feliz. Irá ser uma grande mudança com “M” maiúsculo. Um caminho com mais espinhos do que pétalas de rosa, mas será algo memorável que nos mudará para sempre.

Contudo, quando nasce aquela vontade de mudar, aquele bichinho da novidade, aquele impulso de quebrar a rotina, não existe maneira de voltar atrás. Como não quero viver de “se´s” vou abraçar esta ideia e recomeçar de novo.

Sempre quis voar para longe mas nunca tive a coragem para o fazer. Lembro-me de sonhar ir dar aulas para as PALOPS e esses sonhos ficaram perdidos no tempo. Lembro-me de admirar a minha mana por ela ter decidido ir morar para a Noruega e num ápice lá estava ela a viver a KM de casa.

Sei que não é preciso ir para longe para poder crescer, mas se nos cai nas mãos a oportunidade de o fazer, porque não tentar? Neste momento não há nada a perder, aliás acho que existe muito mais a ganhar do que a perder, embora o caminho se mostre pedregoso e cheio de rasteiras. Mas no que se traduz o crescimento? Superar barreiras e encontrar defesas para nos protegermos do imprevisto.

O relógio aproxima cada vez mais o dia da partida e este sentimento avassalador torna-se cada vez mais real. Tento abstrair-me e focar-me no presente. Aproveitar os meses que me faltam para deixar aqui memórias bonitas a quem abandono fisicamente.

Sinto que esta nova jornada nos tornará mais fortes, a ti e a mim: minha irmã. Iremos ser muito felizes com memórias que marcarão a nossa história. O passado juntou-nos e o futuro une-nos como duas folhas, que embora sejam de árvores diferentes com propriedades distintas, respiram da mesma forma.

Como me costumas dizer: o relógio não pára…

Ana Diogo

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Escolho....




Escondo de mim o caminho que percorro, como quem tem medo de descobrir o incerto. Procuro nas certezas que tenho, respostas para o vazio que sinto. Nada acontece por acaso, nada surge como uma eventualidade. Chamo-as de pistas que o destino, fatalmente, lança nos caminhos que pisamos.

Sinto-me entre a espada e a parede, mas com uma indubitável certeza de qual o caminho a seguir. Não poderei escolher o caminho mais fácil. Escolherei a avenida com pedras soltas na calçada, com uma estrada ainda em construção, com prédios coloridos, onde se avista no final uma ponte que cai elegantemente sobre um rio.

Escolho viver num reino distante com caras por descobrir, sem mapa ou bússola. Levo apenas a vontade de mudar, não o chão que irei pisar mas sim a visão de ver o mundo.

Prefiro um mar de espinhos com algumas pétalas, do que um lago impávido e sereno. Prefiro ter uma mão vazia e livre, do que uma mão cheia de futilidades. Prefiro cheirar a liberdade num mundo desconhecido do que a prisão na qual me encontro.

Levo comigo as saudades que já me rasgam o coração daqueles que amo, mas levo também a certeza de que o amor que sinto não se apagará com o tempo ou distância. Como se o universo se invertesse num buraco entre o espaço e o tempo, e nele pairasse os momentos que vivemos. Construí um álbum na minha memória com todas as histórias que vivemos num retrato que não padecerá com o tempo.

Escolho a incerteza do que vou encontrar, à segurança de um mundo sem novidades.

Ana Diogo

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Passado glorioso...



Lisboa,

Coberta de um azul salgado pintado pelo mar
Cujas tempestades de outrora findaram as lágrimas
De um passado arduamente vitorioso

Que é de mim que me surgi em ti cidade
Num ímpeto fatalmente demorado
Numa inveja inconsciente de ti ó Deidade

Percorro impaciente as tuas ruínas
Como se procurasse a tua alma
Dentro de cada olhar que me foca


Caminho impotente por não reconhecer rostos
Por querer sentir a história de uma cidade
E deles receber desconhecimento

Cada canto tem uma história
Cada rua tem na cal o contador
Cada ruga dos passeios pedregosos
Tem uma pegada do passado

Se cada pedra da calçada
Se cada parede enrugada
Contasse uma história
Teríamos uma epopeia

Uma epopeia de heróis
De aventuras, de letras
De musica, de sonhos
De vitórias, de derrotas

Erguei-vos almas ébrias e ociosas
Porque vos escondeis nos hortos fúnebres
De um passado que quer regressar?

Erguei-vos pois sois a voz do futuro
Embriaguez que esconde a verdade
Ópio de um sonho que ficou por acontecer

Erguei-vos respeitosas almas
Tomai posse deste reino
O cálice é vosso…

Erguei-vos almas piratas
Rebentai as hostes
Acabai com os dogmas

Erguei-vos almas mestras
Que eu serei cônsul dessa vontade
E para sempre a verdade viverá ao lado da historia…

Ana Diogo

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Foi num dia assim...



Foi num dia assim que eu te conheci
Sobre um doce e suave céu
Num horizonte agreste carmesim
Pintado sobre um delicado véu

Foi numa tarde assim que me tornei tua
Sobre uma brisa serena e efémera
Que como uma discreta rosa nua
Despiu as pétalas e tornou-se eterna

Foi num dia assim que me traíste
Com um beijo salgado a mel
Tornaste a saudade triste
Com a tua prosa infiel

Foi num dia assim que partiste
Sobre um céu de cetim
Numa cor rosácea e triste
Secaram as pétalas do meu jardim

Ana Diogo

Vidas



A vida muda como um furacão que surge sem ninguém esperar…
Há um ano tudo era diferente, um fim que deu a origem a um novo começo… Perdi uma pessoa importante na minha vida, mas não a história que vivi com ela. Perdi o sentimento que nos unia, mas ganhei a certeza de que o fim seria inevitável e que um novo caminho me esperava…

Comigo ficam os momentos que vivemos, as coisas que partilhámos, os sorrisos, os abraços, as promessas que não se cumpriram… O tempo, essa força imortal, cura e mostra-nos que o caminho nem sempre é aquele que arquitectamos.

O sonho que construímos os dois ficou por ali naquelas palavras que na altura me feriram mas que já estaria a espera.

Para mim o ano começou naquela noite em que me deixaste e me libertaste da gaiola que partilhávamos. Daquele ninho que eu não queria abandonar. Tiveste de ser tu a expulsar-me e agradeço-te com todas as minhas forças.

Caminhei, por vezes, impaciente na rua sem destino ou porto, mas ganhei experiências que me construiram. Comparo a minha vida com este pequeno acto de deambular com as linhas que se desenham neste futuro próximo.

Há que confiar no tempo, esse professor que nunca faltou a uma aula. A vida não nos promete riqueza, apenas a oportunidade de a conquistar.